
Fonte: Estadão - 05.04.2010
Brasil - Chuvas em volumes nunca antes registrados, trazendo em seu rastro enchentes e deslizamentos. Temperaturas nas alturas, acumulando recordes – um dos verões mais quentes das últimas décadas. Dias que, por certo, serão lembrados mais pelos excessos de calor (hemisfério sul) e frio (hemisfério norte) e pelas tempestades – principalmente frente a construções como as nossas, ainda pouco adaptadas às instabilidades climáticas.
“Eles sempre se mostraram interessados no assunto. Mas atualmente querem saber detalhes, se certificar de que a casa vai mesmo funcionar em boas condições de conforto térmico”, diz o arquiteto Lourenço Gimenes, do escritório Forte, Gimenes & Marcondes Ferraz (FGMF), profissional que vem se acostumando a abordar assuntos como ventilação cruzada e eficiência energética nos encontros com seus clientes.
Sempre preocupado com o desempenho global dos seus projetos, Gimenes afirma que, muitas vezes, são os fatores climáticos, mais do que elementos de ordem estética, que determinam as linhas gerais dos trabalhos da FGMF. A novidade é o interesse, e a preocupação, que os moradores têm demonstrado pelo tema. “Da localização das janelas, passando pelos elementos de proteção e de isolamento, eles querem saber de tudo”, relata o arquiteto, para quem, em se tratando de conforto térmico, não existe uma solução padrão, mas procedimentos que devem ser observados constantemente.
Posicionar a casa corretamente no terreno, de preferência com os ambientes que devem ser mais intensamente iluminados voltados para a face norte, e conhecer bem as características de insolação, sobretudo o ângulo de incidência dos raios solares, e o regime de ventos locais, são, segundo ele, critérios básicos para se dar início a qualquer projeto. No mais, tudo vai depender da habilidade de cada profissional em se adequar às condições locais.
Uma opinião compartilhada, em número e grau, pelo arquiteto Ricardo Julião, para quem as mais elevadas expressões construtivas da história da arquitetura são aquelas que guardaram estreita relação com seu entorno. “A transposição pura e simples de modelos de outros países, como as casas neoclássicas, normalmente sem beirais, ou os chalés alpinos, com telhados inclinados, são mais que aberrações estéticas. São soluções inadequadas ao nosso clima”, dispara ele.
Diante da ameaça de aquecimento global, Julião acredita que construções pouco eficientes em termos de desempenho térmico podem significar não apenas perda de qualidade de vida para seus habitantes mas um risco para todo o ambiente – na medida em que, um aumento de consumo causado pela adoção indiscriminada de aparelhos de ar condicionado, por exemplo, colabora para a criação de mais e mais usinas hidrelétricas ou termoelétricas (fontes de energia sabidamente capazes de acarretar grande impacto ambiental).
“Entre as consequências mais evidentes da urbanização acelerada, temos a formação de condições climáticas particulares, verdadeiros microclimas, resultado direto da atividade humana sobre a natureza. É preciso ficar atento aos riscos de inundações e desmoronamentos, mesmo na cidade”, alerta Julião. Segundo o arquiteto, a perda da camada vegetal – superfície natural de drenagem – é um dos desafios a serem enfrentados.
Assim, uma configuração residencial ideal seria aquela capaz de minimizar ao máximo seu impacto sobre o microclima e mais adaptada às condições de insolação e ventilação. “O conforto é obtido a partir da manipulação de um complexo conjunto de fatores: temperatura, umidade, circulação de ar e radiação solar. É a dosagem correta desses parâmetros que produz sensações térmicas agradáveis ou não”, explica Rodrigo Marcondes Ferraz, outro sócio da FGMF.
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