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Fonte: Último Segundo - 08.11.2010 |
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Alemanha - Se os computadores hoje conseguem armazenar bilhões de unidades de informação em equipamentos cada vez menores, a responsabilidade é do físico Peter Grünberg, 71 anos. O alemão, que dividiu o prêmio Nobel de Física de 2007 com Albert Fert, descobriu de maneira independente um novo efeito da físca, a magneto-resistência gigante (MRG) que foi amplamente usado e revolucionou a computação e sua capacidade de armazenamento de dados. Em São Paulo para dar uma palestra em um colégio particular, Grünberg conversou com o iG na manhã de segunda-feira, 8 de novembro, e disse que quer ver estudos voltados para a economia de energia, assim como o MGR. De fala tranquila, disse que não se surpreendeu quando ganhou o Nobel, pois já se especulava que um dia receberia o prêmio. iG: O que muda depois de ganhar o Nobel? Isto atrapalhou ou ajudou você a se focar na sua pesquisa? Peter Grünberg: Minha vida mudou muito depois do Nobel e foi muito difícil, inicialmente, lidar com a atenção da mídia. Quando se ganha o Nobel você deixa de determinar o que vai fazer ou o que quer fazer. As pessoas vêm e te dizem que agora você deve dar uma entrevista (risos), mesmo não sendo a minha escolha. Mas eu entendo esta necessidade. De qualquer forma foi um grande conflito para mim, pois o meu desejo era ir para o laboratório, pesquisar, fazer o experimento. E o desejo das outras pessoas era que eu desse palestras, participasse de seminários. Depois de um tempo fica enfadonho e desestimulante. Mas há ainda outro conflito, quando você quer falar de outro assunto, é preciso se preparar, estudar, mas não há tempo para isto, porque há outra palestra para dar. Esta era a minha situação até dois anos depois do prêmio. Agora eu estou conseguindo incluir novos assuntos, mas as pessoas continuam querendo saber sobre assuntos relacionados ao prêmio Nobel. iG: Você tem a patente da sua invenção? Peter Grünberg: Sim, mas a invenção não é toda minha. iG: Você estava na vanguarda ao estudar um assunto que representou uma revolução na capacidade de armazenamento de dados. O que te motivou a estudar este assunto? Peter Grünberg: Ah, ele se desenvolveu. Eu não sei dizer o momento exato. Não tem um ponto exato na minha vida que ele veio, ele se desenvolveu. Meu conceito para o sucesso é não mudar muito de tempos em tempos. Eu mudei, mas dentro do mesmo assunto. Tive tempo para fazer mudanças, mas só mudei a maneira de fazer os experimentos num mesmo assunto, segui os mesmos sistemas. Depois investiguei também outros materiais. Eu estudo novos tópicos dentro deste assunto, mas tento não mudar muito. Desta maneira eu acho mais fácil publicar algo. Eu acho importante quando deixamos as coisas constantes. iG: Você já sabia quais seriam as aplicações do magneto-resistência gigante (MRG) já no início das suas pesquisas? Peter Grünberg: Sim, mas eu sempre achei que a importância desta descoberta não é apenas o MGR sozinho, atualmente pessoas estão usando em outros efeitos. O MRG é usado nos sensores dos campos magnéticos. O mais importante do MRG é que abriu um campo que trilhou outras coisas. Ele possibilitou fazer estruturas em camadas, por exemplo, efeito magnético em outros elementos como o ferro, cromo e tantas outras estruturas. Antes disto, ninguém estava interessado neste assunto, mas de fato os efeitos eram muito interessantes. A partir desta descoberta um novo campo se desenvolveu rapidamente. Há novos estudos lindos, como por exemplo, você poder dirigir um carro sem usar combustível. Isto é muito animador! Mas eu acho que atualmente há uma grande preocupação com economia de energia, que a aplicação tem um aspecto muito importante em qualquer lugar. As invenções feitas agora, incluindo o MGR, foram feitas como uma maneira de economizar energia. Nós estamos usando cada vez mais energia, e o petróleo está acabando. Estamos em uma situação estranha. Então acho que a economia de energia é o grande assunto para ser aplicado. iG: Você já sabia das aplicações e possibilidades comerciais que sua invenção teria? Como os usos específicos em discos rígidos e computadores. Peter Grünberg: Para mim, as aplicações sempre foram uma questão muito importante. Eu gosto de fazer pesquisa básica por curiosidade, mas eu fico interessado em algo e me torno realmente um entusiasta por causa de seus novos efeitos. A aplicação sempre é uma área importante. Talvez porque eu venha de uma família, onde o meu avô era um homem de negócios. Perdi meu pai na guerra e tive o meu avô como pai. Ele teve grande influência em mim, com uma educação muito prática. Tento encontrar um quadro físico da situação. Eles sempre me ensinaram a olhar para o dinheiro. iG: Como conseguiu financiamento para o estudo. Foi difícil? Peter Grünberg: Felizmente não tive que fazer uma carreira. Fiquei no mesmo grupo por vinte anos e questões de dinheiro e pagamentos estavam sob a atenção do meu supervisor. O que foi muito bom, pois eu pude me concentrar nos meus estudos. Não tive que me preocupar muito com isto. iG: Qual foi a sua sensação ao receber a ligação informando que havia levado o Nobel de Física? Você esperava recebê-lo um dia? Peter Grünberg: Eu não estava acostumado com tamanha notoriedade e claro que eu estava nervoso. Mas na verdade não foi uma grande surpresa receber o prêmio. Dois ou três anos antes já se especulava que eu poderia ganhar o prêmio Nobel. Então eu pensei “ah, finalmente”. Então agora eu tenho que estar disponível para o prêmio. Não foi a minha escolha, mas é uma coisa boa. Notoriedade não é o meu tipo. iG: O que você acredita que seja a grande área de estudo da Física nos próximos anos? Peter Grünberg: Em muitos casos os semicondutores e semicondutores magnéticos. Há muitos estudos nesta área, mas não consigo imaginar como estarão estes estudos em 10 anos. Certamente há hidrogênio, oxigênio, carbono, temos que começar a construir uma nova economia baseada nestes materiais. Gostaria de descobertas sobre eficiência na energia. Antes tínhamos a guerra, agora este problema. Estamos sempre com problemas, se não temos os criamos. iG: O senhor nasceu na cidade de Pilsen, que criou o tipo de cerveja mais consumida no Brasil. Ontem assistiu a um jogo de futebol. O senhor está se sentindo em casa aqui no Brasil? Peter Grünberg: Sim, vou te contar uma coisa. Em São Carlos, eu bebi uma cerveja que no rótulo estava escrito Pilsen. Quase levei para casa para dar a minha esposa, mas a minha mala já está bem cheia. Gosto muito da sonoridade, a melodia de vocês falando. É uma língua muito bonita. Eu estudei um pouco de português, o daqui é mais bonito que o de Portugal. Gosto da frase “viajar de avião é sempre bom”. |
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