Do sítio Carta Capital
Sustentabilidade
Noruega e Suécia disputam lixo para gerar energia
Leis do mercado ameaçam sistema de eliminação de resíduos e produção de energia nos países escandinavos
por Deutsche Welle
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publicado
03/12/2015 04h21
DW / L.Bevanger
Por Lars Bevanger, de Oslo
Pela lógica, ter pouco lixo deveria ser antes uma bênção do que uma
preocupação. No entanto, na Noruega essa carência está se transformando
numa dor de cabeça para o setor de gestão de resíduos.
Desde que os aterros sanitários foram proibidos, em 2009, o país investiu em modernas instalações para transformação do lixo em energia.
Dotadas de enorme capacidade de incineração, elas produzem energia
térmica, que é canalizada para prédios residenciais e comerciais.
"O calor da incineração é usado para aquecer a água, que é enviada
para o sistema municipal de calefação de Oslo. E nós também produzimos
eletricidade a partir do vapor", explica Jannicke Gerner Bjerkås, da
agência de geração de energia através de resíduos da capital norueguesa.
Olhando para dentro de um forno a uma temperatura entre 850 e mil
graus Celsius, na usina de incineração de Klemetsrud, ela acrescenta que
aquela instalação, sozinha, abastece 60 mil de um total de 340 mil
lares em Oslo.
Concorrência sueca
Com sua capacidade de queimar 300 toneladas diariamente, Klemetsrud
necessita de um volume grande de resíduos para funcionar eficientemente.
Mas o lixo se transformou numa mercadoria sujeita às leis do mercado, o
que complica o sistema energético norueguês.
"Esse mercado funciona como qualquer outro. Mas a grande diferença é
que nós não estamos pagando pelo lixo. Quem o produz é que paga para que
ele seja eliminado", diz Bjerkås. "Nos últimos anos, temos visto esse
preço cair, e é difícil fazer dinheiro, porque a Suécia está construindo
um grande número de incineradores de resíduos, e agora compete com o
mercado norueguês."
- Devido a preços melhores na Suécia, caminhões carregados de resíduo passam direto por Klemetsrud. (DW/L.Bevanger)
Paradoxalmente, centenas de grandes caminhões lotados passam
diante da usina de Klemetsrud, nas cercanias de Oslo, para levar sua
carga direto à Suécia, onde é mais barato descarregar o lixo norueguês.
Grande parte dos complexos industriais de incineração suecos pode
oferecer preços mais em conta, por eles serem mais antigos do que os do
país vizinho, e livres de dívidas. Portanto, lá os custos em geral são
mais baixos.
Assim, há atualmente na Noruega um movimento para que também se
aplique ao setor de eliminação de resíduos o princípio da proximidade
proposto pela União Europeia. Isso forçaria as municipalidades a levarem
seu lixo até a estação mais próxima, e não à mais barata.
"Esperamos que os governos tanto da Suécia quanto da Noruega vejam
que o princípio da UE de usar a usina mais próxima para o lixo municipal
fomentará mais a reciclagem do que a exportação para o forno mais
barato", observa Torbjørn Leidal, ativista em prol do setor nacional.
Ele argumenta que a opção não é apenas melhor para os negócios:
devido à carência de lixo, resíduos que deveriam ser reciclados, como
alimentos, papel e plástico, estão sendo queimados para manter ativos os
fornos. No momento, "o nível de reciclagem na Noruega está
despencando", diz Leidal.
Carência força importação
A quantidade de lixo nacional levado para a Suécia é tão grande, que a
Noruega está tendo que importar a mercadoria de outras partes da
Europa. Contêineres provenientes de Leeds e Manchester, na Inglaterra,
são descarregados nos portos ao sul de Oslo, colocados em caminhões e
levados para a usina de incineração de Klemetsrud.
Esse tipo de transporte através das fronteiras europeias preocupa os
ambientalistas. "O negócio com o lixo é um problema, e nem sempre se
sabe o que o lixo contém", aponta Lars Haltbrekken, da sucursal
norueguesa da rede Amigos da Terra.
"O problema, tanto na Noruega quanto na Suécia, é que temos
capacidade de incineração em excesso. Os consumidores de ambos os países
não estão produzindo lixo suficiente. Nosso ponto de vista é que não
devemos produzir mais, mas sim reduzir a produção de resíduos."
O governo da Noruega afirma que está considerando diversas
alternativas para garantir que usinas como a de Klemetsrud disponham de
matéria-prima suficiente. Uma dessas opções seria justamente a de
introduzir o princípio da proximidade da UE, para que a incineração se
faça em âmbito local.
No entanto, enquanto o mercado do lixo continuar aberto e a Suécia
for o lugar mais barato para se livrar das sobras caseiras, os caminhões
noruegueses continuarão seguindo direto para a fronteira com o país
vizinho.

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