Fonte: Valor Econômico - 30.09.2010
Mato Grosso do Sul - Embalado pelo crescimento da massa salarial e da oferta de crédito no mercado interno, o setor eletroeletrônico estima um crescimento de 14% no faturamento de 2010. O apetite do mercado brasileiro contrasta com as vendas lá fora. A Metalfrio, única multinacional brasileira de eletroeletrônica no ranking da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), registrou uma queda de 47,7% para 41,4% na participação da receita líquida das operações externas no total. Com fábricas no Brasil, Rússia, Turquia e México, a empresa investiu R$ 10,5 milhões em 2009 para modernizar as instalações no exterior.
Para os analistas de mercado, a principal tendência internacional é a substituição de equipamentos antigos por modelos mais atuais que reduzam impacto ambiental e consumo de energia. "Há uma forte pressão por ações sustentáveis, que exigem da indústria mais esforço de produção e pesquisa", diz Luiz Goes, sócio da consultoria Gouvêa de Souza (GS&MO), especializada em varejo.
Com a crise financeira, que atingiu mais a Europa e os Estados Unidos, ganhou força outra tendência: a de maior segmentação do varejo para atender públicos específicos. Goes acredita que grandes redes americanas e europeias buscarão novos mercados em países emergentes. Nada, porém, que altere o atual quadro competitivo. Segundo Goes, os fabricantes globais ocupam uma posição dominante inclusive no Brasil. "Os 'players' nacionais ocupam um espaço pequeno. É um setor que depende de investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento, o que restringe a entrada das empresas menores."
A Metalfrio, nesse cenário, permanece uma exceção. Graças a um trabalho de excelência e focado em produtos de refrigeração, a empresa conquistou uma posição privilegiada entre os maiores fabricantes mundiais de equipamentos "plug-in" para uso comercial. "A melhor alternativa para outras empresas é investir em um segmento específico e evitar a competição com os gigantes na oferta de diversas linhas de produtos", afirma Goes.
A Metalfrio Solutions possui duas fábricas no Brasil, além de plantas na Rússia, Turquia e México, e centros de distribuição nos Estados Unidos, Dinamarca e Ucrânia. A capacidade de produção ultrapassa 1 milhão de unidades/ano. No ano passado, faturou R$ 643 milhões, e a estimativa é manter o mesmo patamar de receitas, com o Brasil responsável pela maior parte do faturamento. "A demanda pelos produtos está ligada ao desempenho das indústrias de bebidas, sorvetes e congelados", avalia o presidente da Metalfrio, Luiz Eduardo Moreira Caio.
A companhia tem 1,4 mil funcionários no Brasil e 1,7 mil no exterior. Este ano a empresa já realizou investimentos no total de R$ 12 milhões. A Metalfrio acaba de ampliar a unidade de Mato Grosso do Sul e vai iniciar a construção de uma nova fábrica em Pernambuco. "Também aumentamos a capacidade instalada na Turquia para 50 mil unidades por mês." Antes, a capacidade era de 30 mil unidades.
Caio acredita que a empresa passou pela crise internacional em situação mais confortável que as concorrentes. De 2008 para 2009, a receita liquida da Metalfrio diminuiu 11,3%, com reduções de entregas principalmente na América do Norte e na Europa. "Reestruturamos a operação russa para operar lucrativamente com volumes mais baixos e registramos na Europa um aumento da receita liquida de 23,3% no segundo trimestre de 2010, comparado ao mesmo período de 2009."
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o faturamento do setor nacional de eletroeletrônicos cresceu 18% no primeiro semestre de 2010, em relação ao mesmo período de 2009. A estimativa para 2010 é de um faturamento de R$ 128 bilhões, 14% a mais que em 2009. A entidade estima que as vendas externas elevam representar 10,5% do faturamento do mercado, este ano, contra 13,4% em 2009 e 20,4% do total em 2005.